Os sujeitos não têm, portanto, “controle” sobre o que dizem e nem são origem do dizer; eles ocupam diferentes posições a partir das diferentes formações discursivas em que se inscrevem. Ou seja, o sujeito só enuncia através de sua inscrição em uma formação discursiva dada e é a partir dela que os sentidos vão ser “determinados” (como sendo uns e não outros).
A relação entre sujeito e linguagem é determinante para ambos: não é só a linguagem que determina aquilo que pode ou não ser dito (só se fala porque a língua já faz sentido); o sujeito, por meio de reformulações, produz deslocamentos nos sentidos já constituídos historicamente na/ pela linguagem. O sujeito não é inteiramente livre para dizer aquilo que quer (o dito como intencional), nem a língua é um sistema fechado que funciona como mero instrumento de comunicação: a linguagem é viva, porque existe na relação entre sujeitos, inscritos nos processos históricos, que estão continuamente promovendo deslocamentos no dizer.
3. O discurso midiático
A miÌdia ocupa um espaço determinante na sociedade: exime-se de um caraÌter interpretativo, atraveÌs de uma pretensa neutralidade, a partir da qual funciona como os olhos da sociedade moderna. EÌ a miÌdia que tudo veÌ‚ e tudo mostra, e eÌ por ela que se pode saber (a verdade). Para Payer (2005), a miÌdia atua na sociedade contemporaÌ‚nea como um novo “texto fundamental”. Contraposta aÌ€ Igreja (e seus aparelhos) ou aos Estado (e seus aparelhos) – que teÌ‚m, respectivamente, o templo e o tribunal como lugares privilegiados de circulação dos seus enunciados –, a miÌdia se caracteriza pela sua dispersão e onipresença.
Nesta seção, analisamos a imagem que o discurso midiático projeta da posição social que a revista em questão se inscreve para falar. Observemos o seguinte recorte:
1) Uma reportagem especial desta edição se dispõe a explicar o que querem os jovens brasileiros que estão vandalizando as ruas a pretexto de lutar contra o aumento de 20 centavos nas passagens urbanas. Eles querem protestar. (VEJA 19 de junho de 2013, seção Carta ao Leitor ) (grifos nossos).
A mídia fala de um lugar privilegiado no qual se poderia entender e explicar os fatos aÌ€queles que, imaginariamente, não entendem, não sabem. Explicar os fatos seria, por efeito de sentido, constituído como trabalho da mídia; nesse recorte, no entanto, vai-se além: não seria só seu trabalho, mas algo que estaria “disposta” a fazer.