Uma análise discursiva da veiculação das manifestações de junho de 2013 pela revista Veja


resumo resumo

Raquel Noronha



9) Na quarta-feira passada, Lula – depois de ouvir mais queixas de sindicalistas – orientou-os a aderir às manifestações. No dia anterior, o ex-presidente se reuniria justamente com Dilma e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para tratar do assunto. Ao protagonizar esse encontro, Lula reforçou a imagem de que é o mentor da presidente e, de quebra, jogou Haddad aos leões. O ex-presidente espalhou a versão de que Haddad foi o principal culpado pelo acirramento da situação em São Paulo ao menosprezar os manifestantes. A ordem de Lula foi para que o prefeito reduzisse as tarifas, ignorando os argumentos de que não havia dinheiro para isso e que a revogação dos aumentos abriria um precedente perigoso, que poderia inviablizar seu governo. Nada disso importava a Lula. Para ele, a meta é estancar o desgaste do PT. Afinal. 2014 está aí – com Dilma ou com ele. (VEJA 26 de junho de 2013, reportagem principal) (grifos nossos)

 

Aqui, o ex-presidente Lula aparece como líder do governo: é ele quem marca reuniões, orienta estratégias, manda reduzir as tarifas. Mas esta certa posição de líder produzida pelo discurso midiático não é positiva, uma vez que o ex-presidente é retratado como aquele que não sabe o que está fazendo (“ignorando os argumentos de que não havia dinheiro para isso e que a revogação dos aumentos abriria um precedente perigoso, que poderia inviabilizar seu governo”), que cria inverdades (“espalhou a versão") e que só estaria interessado nas eleições de 2014 (“Afinal. 2014 está aí – com Dilma ou com ele”).

 

10) O choque realmente pertubador pegou em cheio os partidos de esquerda, e em especial o PT, que se consideravam donos das ruas. Não são. As ruas brasileiras hoje pertencem aos brasileiros que não se sentem representados por essas legendas e que fizeram questão de obrigar os militantes do PT, do PSOL e de outras agremiações a baixar suas bandeiras quando tentaram participar dos protestos. Na quinta-feira passada, sindicalistas da CUT foram vigorosamente afastados de uma passeata no Rio de Janeiro, quando, obedecendo a ordens do ex-presidente Lula, quiseram se passar por manifestantes. Na Avenida Paulista, o coração de São Paulo, a mesma rejeição foi dirigida a petistas tarefeiros que, obedientes ao chamamento da direção nacional, imaginaram poder se misturar aos demais, fingindo comungar da indignação geral com a corrupção, a impunidade e os gastos públicos de péssima qualidade. Foram violentamente lembrados de que estão no poder. São, portanto, alvo da indignação. (VEJA 26 de junho de 2013, seção Carta ao Leitor) (grifos nossos)

 















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