Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista


resumo resumo

Rodrigo Marcelino



A reportagem não existe na era cristã como existe a crônica. Além do jornalista e do folhetinista, há várias outras práticas da imprensa: reclames, caricaturistas, com as revistas ilustradas, tipógrafos, que em 1858 fazem greve e depois se tornam uma das primeiras práticas da imprensa a fazer parte da história da Previdência Social, etc.. Existem muitas práticas, mas não reportagem. “Os jornais não sabiam “ver” o pitoresco, não tratavam ainda de reportagens” (FONSECA, 1941, p.167).

“O público leitor de 1854 era muito menos exigente que o de hoje, e não padecia dessa neurose de curiosidade que criou os repórteres e que os obriga a folhearem a vida não só pública, como íntima dos homens que estiveram em evidência” (SENNA, 1895, p.26). A função do poder da imprensa, com a ordem do discurso, alterou-se profundamente, e somente em um discurso finalista a reportagem vai atingir a narrativa e desaparecer na crônica, no conto, no romance, que, mutuamente, encarnavam a prática do folhetinista.

Paulo Barreto será um meio de multiplicar todas essas tendências narrativas. Como acontece na série de reportagens do jornal Gazeta de Notícias (1874-1956), publicada entre 22 de fevereiro a 21 de abril de 1904, intitulada As Religiões no Rio (1904). Ou na série estampada toda entre 1904 e 1907, na Gazeta de Notícias e na revista Kosmos (1904-1906), que irá formar o livro A alma Encantadora das Ruas (1908) [1]. A crítica não escapará da presença da reportagem, uma e outra, com Paulo Barreto, convergem em O Momento Literário (1905).

 

No Dicionário de literatura brasileira (1969), as obras aludidas de Paulo Barreto são consideradas no verbete crônica, escrito pelo então consultor literário da editora do dicionário, José Paulo Paes, que cita a obra de Afrânio Coutinho (1959) como referência sobre o assunto. Na quarta edição (1997) de A Alma Encantadora das Ruas, Raúl Antelo (2008) confirma as narrativas de Paulo Barreto entre crônicas e reportagem (idem, p.10, 15). Nestor Vitor (1906), por exemplo, que fez a crítica de As Religiões no rio, encarava essa narrativa como sendo reportagem e chegava a reconhecer um defeito corrigível, “fabulações flagrantes”, “o que não é do programa” da reportagem. Ponderava que “João do Rio não é um repórter que tenha chegado a sua profissão pelos caminhos ordinários que levam um homem a seu ofício [...] mas que ele aceitou pela forma mais intelectual e mais brilhante, embora um tanto ou quanto prática, que essa profissão lhe permitia” (idem, p.382, 384, 385).  Em Vida Vertiginosa (1911), Paulo Barreto seria “mestre da arte de transformar o jornal em obra de arte” (AMADO, 1911, p.26), mostrava que “o jornalismo leva tudo, com a condição de dele sair a tempo...” (BARRETO, 1911, p.176).



[1] No Dicionário de literatura brasileira (1969), as obras aludidas de Paulo Barreto são consideradas no verbete crônica, escrito pelo então consultor literário da editora do dicionário, José Paulo Paes, que cita a obra de Afrânio Coutinho (1959) como referência sobre o assunto. Na quarta edição (1997) de A Alma Encantadora das Ruas, Raúl Antelo (2008) confirma as narrativas de Paulo Barreto entre crônicas e reportagem (idem, p.10, 15). Nestor Vitor (1906), por exemplo, que fez a crítica de As Religiões no rio, encarava essa narrativa como sendo reportagem e chegava a reconhecer um defeito corrigível, “fabulações flagrantes”, “o que não é do programa” da reportagem. Ponderava que “João do Rio não é um repórter que tenha chegado a sua profissão pelos caminhos ordinários que levam um homem a seu ofício [...] mas que ele aceitou pela forma mais intelectual e mais brilhante, embora um tanto ou quanto prática, que essa profissão lhe permitia” (idem, p.382, 384, 385).  Em Vida Vertiginosa (1911), Paulo Barreto seria “mestre da arte de transformar o jornal em obra de arte” (AMADO, 1911, p.26), mostrava que “o jornalismo leva tudo, com a condição de dele sair a tempo...” (BARRETO, 1911, p.176).















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