Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista
Rodrigo Marcelino
Vai se formando, assim, outra prática de crítica à literatura. A Sociologia literária funda-se na crítica sob uma esplêndida gama de metáforas biológicas, que na paisagem contemporânea, são substituídas por metonímias da Linguística que, na metade do século XIX, era um critério bem fraco em Etnologia se comparada à Biologia.
A crítica sociológica em literatura aparece, trazendo em si o gérmen de um deslocamento nas práticas da imprensa, o que permite limpar o caminho do tempo como se ele estivesse obstruído por “pobres e inúteis destroços” (ROMERO, 1880). Esse deslocamento não é só literário, é também científico, é político, porque é o “movimento de uma ordem abalando todas as suas eminências” [1], a reação de uma crítica sobre as fórmulas existentes no reflexo do eu coletivo, na percepção do eu individual e na vontade e corpo da representação. Os enunciados dessas práticas têm a mais estreita conexidade com a imprensa, com a prática do jornalista e com a prática do folhetinista, a ponto de se confundirem facilmente com a primeira, mas nem sempre com a segunda. Poderia se achar o verdadeiro rosto da imprensa a não ser nas múltiplas máscaras do folhetinista e do jornalista? “O folhetim nasceu do jornal, o folhetinista por consequência do jornalista” [2]. A produção de narrativas, por parte do folhetinista, retroalimenta a prática da crítica do jornalista que, por sua vez, incita os resultados da narrativa, desse movimento sai uma literatura, formulada como pilar na existência da ordem do discurso, disso mesmo que temos o hábito de denominar povo. Até o fim da era cristã, conjugadas ou isoladas, essas são duas posições que podem ser ocupadas pelo discurso da imprensa.