Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista


resumo resumo

Rodrigo Marcelino



Na passagem do século XIX para o XX, a Casa de Detenção continua a ocupar o espaço temporário no qual havia sido instalada em 1856, ou seja, permanece em uma das partes nunca acabadas do panóptico da Casa de Correção (CHAZKEL, 2009, p.20). “O aspecto geral da Casa de Detenção, quer no interior, quer no exterior, é agradável. Há também em baixo o manicômio. Recebe o réu “na Casa de Detenção a competente guia e é imediatamente transferido para a Casa de Correção” (SENNA, 1895, p.11, 22). “Em 1858, teve a assembléia geral conhecimento de haver instalado, na Casa de Correção, uma escola para menores desvalidos. Instituição policial, a princípio foram ali recolhidos menores encontrados na vadiação” (FILHO, 1904, p.28)

O repórter está na cidade e sua chegada, com efeito, é sentida em Paulo Barreto, que narrará a infâmia a partir da admiração pelas notas, entrevistas e errâncias de Ernesto Senna. Não foi Paulo Barreto que introduziu a entrevista entre nós, como quer Brito Broca (1956), mas correspondentes como Flávia Nunes e repórteres como Ernesto Senna. No cronismo da coluna Cinematógrafo, na Gazeta de Notícias, Paulo Barreto escreverá sobre Ernesto Senna: “eu admirava intimamente a força, a mocidade, o trabalho desse homem que é só jornal, jornal da cabeça aos pés, decano da reportagem e amando a sua folha como um gato” [1]. Sob a narrativa Os tatuadores[2], Paulo Barreto se remete ao livro de reportagem de Ernesto Senna, Através do cárcere (1907), terminado em abril de 1904.

 

“Senna fazendo um livro sobre nossas correcionais teve de dar extenso espaço à tatuagem, que na vida da penitenciária simboliza a saudade, o amor perdido, as ligações reclusas e nasce naturalmente do ócio; O Sr. Ladisláu Cavalcante na sua tese tem a priori uma teoria, parte de onde devia começar, dando a tatuagem como característica do criminoso. [...] O corpo desses, nus, é um estudo social” [3].

Gazeta de Notícias, 20 de outubro de 1907.

É a primeira versão da narrativa A tatuagem no Rio, republicada com uma segunda versão na coletânea A alma encantadora das ruas (1908). Na segunda versão, a referência a Senna dar lugar a Cesare Lombroso, também citado em Através do cárcere (1907). Cesare Lombroso se filia a concepção romântica de crime-doença, que para Tobias Barreto, “reclama para o delinqüente, em vez da pena, o remédio”, ou, positivo-naturalística para Clóvis Beviláqua. A concepção romântica de crime-doença difere da escola criminológica de orientação sociológica, como em Gabriel Tarde.

Kosmos, novembro de 1904.



[1] Gazeta de Notícias, 20 de outubro de 1907.

[2] É a primeira versão da narrativa A tatuagem no Rio, republicada com uma segunda versão na coletânea A alma encantadora das ruas (1908). Na segunda versão, a referência a Senna dar lugar a Cesare Lombroso, também citado em Através do cárcere (1907). Cesare Lombroso se filia a concepção romântica de crime-doença, que para Tobias Barreto, “reclama para o delinqüente, em vez da pena, o remédio”, ou, positivo-naturalística para Clóvis Beviláqua. A concepção romântica de crime-doença difere da escola criminológica de orientação sociológica, como em Gabriel Tarde.

[3] Kosmos, novembro de 1904.















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