O Recife mal-assombrado: imagens que (se)dizem da cidade entre memória, paráfrase e polissemia


resumo resumo

Dalexon Sérgio da Silva



1. Efeito de início

O Recife fica no Nordeste do Brasil e é a capital do estado de Pernambuco. Uma cidade bem conhecida, visitada, contada, cantada e versificada por muitos, principalmente pelos seus diversificados artesanatos e por possuir, no carnaval, o Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do mundo que, neste ano de 2023, de acordo com a matéria publicada no dia 18 de fevereiro de 2023, pelo jornal Diário de Pernambuco, bateu o seu próprio recorde, com um público de 2,5 milhões de foliões, ao passo do frevo, nas ruas históricas da cidade do Recife, ratificado pelo livro dos recordes, bem como, é também a capital no Brasil que recebeu a alcunha de Veneza Brasileira, por ter sido construída sobre as águas. Nesse sentido, a capital pernambucana é uma cidade dita pelas belezas de suas praias, pertencentes a um litoral paradisíaco, que exalta a Terra dos Altos Coqueiros!

Contudo, o que nem todos sabem, é que a cidade do Recife é considerada “a cidade mais assombrada do Brasil”. O sistema de comunicação Jornal do Commercio de Pernambuco, por meio do site da Rádio Jornal, trouxe no dia 14 de outubro de 2017, a reportagem de capa, intitulada: As histórias de terror do Recife, "a cidade mais assombrada do Brasil". Na reportagem, a rádio afirmou que a cidade reúne histórias originais de terror, que podem ser do sobrenatural, ou do dia a dia urbano.

 No dia 10 de novembro de 2017, o site da revista Veja publicou a seguinte reportagem: Recife assombrada: conheça as histórias que fascinam os moradores. A matéria publicizou que livros, sites, ilustrações e até filmes mantêm vivas as lendas urbanas bizarras e aterrorizantes da cidade do Recife, tais como: a Lenda da Bailarina morta, que ainda hoje, os funcionários do Teatro de Santa Isabel dizem vê-la dançando no palco, ou a Lenda da Emparedada da Rua Nova, que foi assassinada ao ser cimentada presa nas paredes do banheiro de sua casa, ou a Lenda da Perna Cabeluda, que sai correndo atrás das pessoas para matá-las, ou ainda, a Lenda dos Espectros que assombram o Rio Capibaribe, dentre tantas outras.

Numa reportagem mais atual, do dia 13 de maio de 2022, o site do UOL trouxe também uma matéria sobre essa temática, intitulada: Sexta-feira 13: Conheça histórias do Recife assombrado em passeio pelo Capibaribe. A reportagem informou que a bordo da embarcação Catamaran com capacidade para 90 pessoas, os atores da Cia Pernambucana de Arteatro se revezam para personificar os protagonistas das mais famosas lendas urbanas de Pernambuco, como o mistério do Encanta-moça, as sombras e sons do Teatro Santa Isabel, o fantasma da Emparedada da Rua Nova, os Espectros do Rio Capibaribe, o Boca de Ouro e até o Papa-Figo, como histórias que permeiam o imaginário popular pernambucano.

Nessa diretriz, foi inspirado nessas lendas que o escritor, sociólogo e antropólogo, Gilberto Freyre, lançou, na década de 1950, o livro intitulado Assombrações do Recife Velho. A obra, com 27 histórias do além, é tomada como referência e fonte de pesquisa sobre os relatos mal-assombrados da capital pernambucana.

Com o intuito de facilitar o acesso a esse olhar sombrio sobre o Recife, o escritor e roteirista André Balaio criou, junto com o jornalista Roberto Beltrão, o site O Recife Assombrado, que está on-line, há mais de vinte anos, disponibilizando muitas informações sobre essas lendas assombradas da Veneza Brasileira.

E é nesse mesmo intuito de divulgar as lendas da capital mais mal-assombrada do Brasil, que a cidade do Recife possui, entre os meses de julho a outubro, passeios de Catamaran, à noite, sobre o Rio Capibaribe, principal rio que corta as ruas do centro do Recife, nos quais há encenações teatrais das lendas urbanas da cidade, durante o navegar do barco pelas águas. É um projeto baseado na referida obra literária de Freyre (2008, 2005): “Assombrações do Recife Velho”. O passeio que passa pelos cartões-postais da cidade, traz informações sobre os segredos sobrenaturais que pairam nos recantos históricos da capital pernambucana, num roteiro com a participação de atores, onde a cidade do Recife é o próprio cenário.

O site do Catamaran disponibiliza algumas fotos tiradas do passeio. Desse modo, duas dessas imagens serão aqui, analisadas por nós, como materialidades discursivas, pois apresentam uma forma material, onde podemos analisar, dentre outros aspectos, o funcionamento da memória discursiva e os efeitos de sentidos sobre as lendas do Recife.

Com base na Análise Materialista do Discurso de vertente pecheuxtiana, objetivamos responder às seguintes questões norteadoras: i) Que efeitos de sentidos são produzidos a partir da circulação dessas duas imagens assombradas? ii) Como a memória discursiva funciona nessas duas imagens das lendas do Recife?

Ao respondermos essas indagações, torna-se importante, como condições de produção do discurso, pontuarmos que a visitação turística a lugares que sugerem sentidos de morte e luto, que podem causar sentimentos tenebrosos nos turistas, configura o Recife como uma das principais capitais brasileiras praticantes do Dark Tourism.

No próximo tópico, apresentaremos ao leitor, um breve estudo sobre o Dark Tourism.

 

2. Algumas considerações sobre o Dark Tourism

Dark Tourism” (turismo obscuro) é um fenômeno global em que as visitações clássicas são trocadas por lugares historicamente associados à morte e às grandes tragédias, desastres e atrocidades, funcionando como turismo de nicho.

O termo “Dark tourism” foi cunhado por Foley & Lennon (1996a) em um artigo publicado e, posteriormente, em um livro (FOLEY & LENNON, 1996b). Dito de outro modo, o Dark Tourism é uma tipologia do turismo relacionado com a visita em locais onde a morte e o sofrimento estão associados, sejam estes locais reais ou recriados, como também podemos observar nos estudos de Neves (2020), Farmaki (2013) e Stone (2006)

Ainda de acordo com Lennon & Foley (2000), o Dark Tourism é considerado como uma indicação da pós-modernidade. Os autores discutem o interesse dos visitantes no final do século XX e início do século XXI, por vivenciarem o “turismo obscuro” e afirmam que esse fenômeno é muito vivenciado como atrações em países como Indonésia, Vietnã, Coreia, Polônia, Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra, Holanda, Japão e Estados Unidos, entre outros.

Baseado em Stone (2006), essa prática turística também pode ser chamada de “tanaturismo”, “turismo mórbido”, “turismo de desastres”, “turismo de luto”, “turismo de manchas negras” e “turismo de fênix”, configurando-se como uma nova forma de praticar o turismo urbano, que se avolumou a partir do final do século XX e início do século XXI, adaptando ao turismo edificações e acontecimentos que por algum motivo, real ou simbólico, estabeleçam ligações com a morte:

 

De fato, quando as pessoas viajam, elas foram atraídas - propositadamente ou não - para lugares, atrações ou eventos ligados de uma forma ou de outra com a morte, o sofrimento, a violência ou desastre (STONE, p.4, 2009. Tradução do autor).

 

Sabemos que a morte sempre despertou o interesse da humanidade ao longo da história da humanidade, todavia sua transformação em produto turístico configura e caracteriza a sociedade contemporânea. Assim, é desse modo que esta prática funciona relacionada às ações da mídia para transformar o sentimento de rejeição dos trágicos acontecimentos da humanidade em um sentimento de emoção e curiosidade, despertando a atenção e o desejo dos viajantes de saírem da zona de conforto tradicional para visitar os lugares mais sinistros e medonhos imagináveis.

 Segundo Maitland, (2010); Gravari-Barbas (2013); Gravari-Barbas & Delaplace (2015), o Dark Tourism tem sido uma crescente no campo turístico, porque, atualmente, as práticas tradicionais de turismo estão sendo repensadas no campo da gestão de destinos em favor de atividades de turismos mais criativos, ativos e inovadores que compõem o cognominado novo turismo urbano, com o objetivo de oferecer aos viajantes experiências práticas de turismo urbano mais alternativas.

 Nessa configuração, temas que despertam o interesse de turistas e moradores, como experiências relacionadas a fenômenos sobrenaturais, horror, morte, cemitérios e assombrações, tornaram-se ferramentas importantes para projetar novos produtos turísticos urbanos.

Conforme Maitland (2010), os novos turistas urbanos têm se mostrado ​​com interesses em atividades cotidianas e mundanas dos residentes e pelos espaços “fora do caminho”, por exemplo, iniciativas como passeios a pé, visitas fora dos limites do centro da cidade turística e do circuito de turismo, buscando os circuitos de arte de rua. Assim, de acordo com Gravari-Barbas & Delaplace (2015), esse tipo de prática projeta novas relações entre o que é ordinário e familiar e o que é extraordinário e exótico, dando origem à concepção de Dark Tourismm que funciona como práticas sociais desenvolvidas, para valorizar recursos urbanos atípicos e exóticos, que rompem com a noção de turismo tradicional.

No próximo tópico, dissertaremos sobre as concepções operatórias teórico-analíticas da Análise do Discurso de linha francesa, que serão retomadas mais adiante no campo das análises do nosso corpus discursivo.

 

3. Um olhar pecheuxtiano sobre efeitos de sentidos, memória discursiva, paráfrase e polissemia na Análise do Discurso (AD)

Atualmente, a AD tem vivenciado os desafios colocados pela incumbência de analisar discursos cuja materialidade se constitui de imagens, imbricadas ou não com a língua e demais materialidades. Essa multiplicidade de discursos é que se denomina em Análise de Discurso como interdiscurso. Conforme saliente Orlandi (2009a), trata-se de um conjunto de dizeres que falam antes, em outros lugares, por outros sujeitos; como um conjunto não discernível, não representável de discursos que sustentam a possibilidade mesma do significar, sua memória. Logo:

 

(...) O dizer não é propriedade particular. As palavras não são nossas. Elas significam pela história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa nas “nossas palavras”. O sujeito diz, pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem nele. (...). (ORLANDI, 2009, p.32).

E é desse modo que, em seu funcionamento, os efeitos discursivos derivam de uma materialidade específica, quer seja verbal e/ou não-verbal. Para Pêcheux (1990, 2009), num discurso estão presentes os pontos A e B, que se encontram em lugares determinados na estrutura de uma formação social. Esses lugares se acham não apenas representados nos processos discursivos, mas transformados. E é nessa compreensão que um discurso não se caracteriza necessariamente numa mera troca de informações entre A e B, mas sim, num jogo de “efeitos de sentido” entre os participantes. Logo, B não representa um destinatário, posto que esses papéis são atribuídos mutuamente a um e a outro.

Nessa diretriz, os sentidos são produzidos por um dado imaginário, sempre social, como resultado das relações de luta de classes entre poder e sentidos. Logo, a ideologia é a responsável por produzir nos efeitos de sentido constituído, a ilusão de um sentido único, literal.

Ao fazer uma releitura de Pêcheux (1990, 2009), Orlandi (2007, 2009, 2009a), compreende o discurso como efeito de sentido entre locutores. Sendo Assim “[...] O sentido não tem origem. Não há origem do sentido nem no sujeito, nem na história. O que há são efeitos de sentido” (ORLANDI, 2008, p. 49). Nesse sentido

 

Compreender o que é efeito de sentidos, em suma, é compreender a necessidade da ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos. É da relação regulada historicamente entre as muitas formações discursivas (com seus muitos sentidos possíveis que se limitam reciprocamente) que se constituem os diferentes efeitos de sentidos entre os locutores. Sem esquecer que os próprios locutores (posições do sujeito) não são anteriores à constituição desses efeitos, mas se produzem com eles. Importa ainda lembrar que o limite de uma formação discursiva é o que a distingue de outra[...] o que permite pensar[...] que a formação discursiva é heterogênea em relação a ela mesma, pois já evoca por si o “outro” sentido que ela não significa[...]” (ORLANDI 2007, p. 21).

 

O efeito de sentido não está em nenhum lugar, mas se produz nas relações: dos sentidos, dos sujeitos, pois sujeitos e sentidos se constituem mutuamente, pela sua inscrição em várias formações discursivas (ORLANDI, 2007). Do exposto, é preciso compreendermos que, na perspectiva da AD, sujeito e sentidos se constituem mutuamente e sempre na relação constitutiva entre a paráfrase e a polissemia.

Orlandi (2009) propõe que pensar a linguagem em termos discursivos significa articular, ao mesmo tempo, o mesmo e o diferente. Todo ato de linguagem existe num jogo para o qual concorrem velhos e novos sentidos, o que aponta para a existência de aspectos parafrásticos e polissêmicos, respectivamente:

 

Daí considerarmos que todo o funcionamento da linguagem se assenta na tensão entre processos parafrásticos e processos polissêmicos. Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da estabilização. Ao passo que, na polissemia, o que temos é deslocamento, ruptura de processos de significação. Ela joga com o equívoco (ORLANDI, 2009, p. 36).

 

Assim, os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há algo que se mantém, ou seja, o dizível, a memória. É preciso observarmos, no jogo de sentidos produzidos pelo discurso, a paráfrase (a repetição) e a polissemia (a instauração da diferença). A AD relaciona os processos de significação que acontecem em um texto com a sua historicidade, por meio da exterioridade constitutiva de todo dizer.

Segundo Orlandi (2008, 2009a), essa relação de tensão entre paráfrase e polissemia atesta o caráter de incompletude que possui a linguagem: os discursos (bem como os próprios sujeitos) estão sempre se reformulando, num movimento contínuo.

 Nessa diretriz, a polissemia se mostra como diferentes movimentos de sentido num mesmo objeto simbólico. Ainda de acordo com a autora:

 

A paráfrase é a matriz do sentido, pois não há sentido sem repetição, sem sustentação no saber discursivo, e a polissemia é a fonte da linguagem uma vez que ela é a própria condição de existência dos discursos, pois se os sentidos – e os sujeitos – não fossem múltiplos não haveria necessidade de dizer. A polissemia é justamente a simultaneidade de movimentos distintos no mesmo objeto simbólico (ORLANDI, 2009a, p. 38).

 

Dito de outro modo, a paráfrase é o retorno aos mesmos espaços do dizer e é nesse jogo entre paráfrase (o mesmo) e polissemia (o diferente), entre o já-dito e o a se dizer que os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem seus percursos, significam-se e se (re)dizem. É por esse movimento constitutivo entre paráfrase e polissemia que alguns sentidos são mobilizados e outros silenciados. Desse modo, coloca-se a relação do dizer com o não-dito, seja porque é dito de outro modo, seja porque é silenciado, interditado.

 Outra concepção teórica e analítica basilar a se fazer presente neste trabalho é a concepção de memória discursiva. Assim:

 

A memória discursiva seria aquilo que, face a um texto que surge como acontecimento a ser lido, vem restabelecer os ‘implícitos' (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível (PÊCHEUX, 1999, p. 52).

 

Nesse direcionamento, os sentidos vão se construindo no embate com outros sentidos. Desse modo, a memória é o saber discursivo, o já-dito, os sentidos a que já não se tem mais acesso, que foram constituídos ao longo de uma história e que estão nos sujeitos, sem pedir licença. A memória, compreendida por Orlandi (2014) em relação ao discurso, é tratada como interdiscurso e é essa concepção que neste artigo se adota, ou seja, considera-se a memória discursiva chamada também de interdiscurso.

 Nesse ponto, a memória discursiva se apresenta como a condição do legível, estabilizada por uma série de repetições e regularizações de discursos próprios, presente numa dada conjuntura social. Contudo, devido ao atravessamento de formulações divergentes, pode vir a sofrer uma desestabilização, favorecendo efeitos de sentidos que entrarão em deriva, permitindo, na tessitura discursiva, a presença de equívocos, atos falhos e lapsos, por exemplo. Isso posto, para Pêcheux (1999, 2009), todo discurso se constitui a partir de uma memória e do esquecimento de outros discursos.

No tópico seguinte, apresentaremos os componentes metodológicos que permitiram o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.

 

4. Funcionamento metodológico deste artigo

Objetivamos, neste campo, expormos os procedimentos metodológicos que propiciaram o passo a passo para o adequado seguimento desta pesquisa. De início, é necessário dizermos que acessamos, no dia 20 de março de 2023, uma publicação de duas fotos no site do Cataman, do Recife, que se encontram disponíveis em: https://reservas.catamarantours.com.br/passeio/catamaran-assombrado e que fazem referências às lendas urbanas da cidade e à posição do Recife como local da prática do Dark Tourism.

 Isso nos chamou a atenção, principalmente por vermos questões a serem analisadas nessas duas imagens, pelo viés da Análise Materialista do Discurso de vertente pecheuxtiana. Dito de outro modo: i) Que efeitos de sentidos são produzidos a partir da circulação dessas duas imagens assombradas? ii) Como a memória discursiva funciona nessas duas imagens das lendas do Recife?

Para tal, baixamos as duas imagens do site, por meio de um aparelho de celular, para serem analisadas, por vermos o mover teórico-analítico da Análise Materialista do Discurso de vertente pecheuxtiana nesse corpus discursivo.

Depois, procedemos à análise desse corpus, pois entendemos que as duas imagens possuem uma forma material na qual podemos analisar, por exemplo, os efeitos de sentidos, o funcionamento da memória discursiva e a relação sempre constitutiva entre paráfrase e polissemia, dentre outras concepções operatórias teórico-analíticas que nos permitem mobilizar um gesto de leitura e de interpretação.

A seguir, apresentaremos a parte das análises do nosso artigo, em nosso gesto de leitura e interpretação, o passo a passo, desde o principiar e o desenredar de nossa pesquisa que apresentamos leitores, tomada em nosso ato.

 

5. Um gesto teórico-analítico pecheuxtiano num corpus discursivo

Aqui, mobilizamos a teoria da Análise do Discurso de matriz francesa (PÊCHEUX, 2009), que norteará a tessitura do nosso trabalho e servirá de base para a análise do corpus discursivo, por meio do nosso gesto de leitura e interpretação.

Assim, entendemos por gesto, todo ato tomado ao nível do simbólico (exterioridade constitutiva na historicidade, saber discursivo e funcionamento ideológico). Desse modo, em nossas análises, o gesto equivale a um dado acontecimento analisado que se inscreve em duas imagens (materialidade discursiva) para enunciar.

 

Imagem 1- Lenda da Emparedada da Rua Nova Imagem 2 - Lenda dos Espectros do Rio Capibaribe

Imagem 1 e Imagen 2 estão disponíveis em: https://reservas.catamarantours.com.br/passeio/catamaran-assombrado. Acesso em: 20 de março de 2023.

 

Pêcheux (2002), em seu livro intitulado O discurso: estrutura ou acontecimento, apresenta-nos três elementos para analisar discursivamente os enunciados: a) o acontecimento; b) a estrutura; e c) a tensão entre descrição e interpretação. Dessa maneira, ele elenca três caminhos a serem seguidos:

 

Para entrar na reflexão que empreendo aqui com vocês, sobre o discurso como estrutura e como acontecimento, imagino vários caminhos muito diferentes. Um primeiro caminho seria tomar como tema um enunciado e trabalhar a partir dele; por exemplo, o enunciado “On a gagné” [“Ganhamos”] tal como ele atravessou a França no dia 10 de maio de 1981, às 20 horas e alguns minutos (o acontecimento, no ponto de encontro de uma atualidade e uma memória). Um outro caminho, mais clássico, na aparência (mas o que é clássico hoje?), consistiria em partir de uma questão filosófica; por exemplo, o da relação entre Marx e Aristóteles, a propósito da ideia de uma ciência da estrutura. [...] E então? Não seria melhor (terceiro caminho possível) eu me ater sabiamente ao domínio “profissional” no qual me encontro, bem ou mal, minha referência: o da tradição francesa de análise de discurso? [nota 1]. Por exemplo, levantando, na configuração dos problemas teóricos e de procedimentos que se colocam hoje para essa disciplina, o da relação entre a análise como descrição e a análise como interpretação? (PÊCHEUX, 2002, p. 16-17).

 

Nessa compreensão defendida pelo autor, entendemos que é possível abordar um corpus imagético por meio dos três pontos supracitados, isto é, tratar os objetos (enunciados) como acontecimentos, no ponto de encontro de uma atualidade e de uma memória. De acordo com Mazzola (2014, p. 59) “as categorias citadas por Pêcheux podem dar conta de abordar os discursos políticos que atravessam o acontecimento”. Entretanto, segundo o autor, trata-se aqui de problematizar a questão da estrutura de uma imagem ou de uma pintura, isto é, de que maneira elas poderiam ser analisadas, não segundo categorias derivadas da apreensão do signo linguístico, mas a partir da estrutura formal de outros sistemas de signos. Mais especificamente, trata-se da descrição da estrutura, que deve atravessar necessariamente os debates sobre o signo visual, mesmo que esse debate conduza invariavelmente à língua como sistema supremo por meio do qual se pode descrever todos os outros sistemas (MAZZOLA, 2014, p. 60).

Assim, baseados nos estudos de Pêcheux (2002, 1999), podemos perceber, no funcionamento da imagem 1 e da imagem 2, um ponto de encontro entre uma atualidade (turistas que passeiam, à noite, de Catamaran sobre as águas Rio Capibaribe no centro do Recife) e uma rede de memórias (as lendas urbanas do Recife presentes nas imagens 1 e 2), sendo desse modo, nessas condições de produção do discurso turístico sobre a cidade, que essas materialidades imagéticas se inscrevem na memória para enunciar, como imagens que (se)dizem de outro modo, o Recife mal-assombrado.

Nesse ponto de encontro entre memória e atualidade que se inscrevem a imagem 1 e 2, analisadas neste trabalho, é possível considerarmos essas materialidades imagéticas na perspectiva de Orlandi (1995), como prática discursiva. Esta noção de prática discursiva permite que elas se aproximem, no funcionamento das diferentes linguagens, daquilo que constitui uma semelhança entre elas, e distinguir o que é lugar de diferenças constitutivas da especificidade dos processos significantes dessas diferentes linguagens.

Nesse direcionamento, podemos discutir o processo de produção de sentidos sem o efeito da dominância do verbal. Ao falarmos em imagens considerando-as como práticas discursivas, estamos buscando restituir-lhes seus processos específicos de significância, tendo em vista que elas possuem corpo (materialidade) e possuem historicidade. Dessa forma, analisar as imagens 1 e 2 como prática discursiva, é entender que elas são constituídas por uma materialidade própria, que possui historicidade e significação ao referir-se às lendas urbanas.

Nessa diretriz, na imagem 1, podemos observar uma mulher de cabelos pretos longos, toda vestida de branco, em pé, na histórica Ponte de Ferro do Recife, herança do período holandês em Pernambuco, construída em 1640. Essa imagem faz referência ao momento no qual o Catamaran passa, com tripulantes, embaixo da Ponte de Ferro e uma atriz dramatiza essa cena, contudo ela também funciona fazendo, principalmente, referência à Lenda da Emparedada da Rua Nova, logradouro que fica no centro da cidade do Recife.

De acordo com o site pernambucano Lendas de Lori, a Lenda da Emparedada da Rua Nova é uma das mais famosas da história de horrores do Recife. Ela se passou em torno de uma família tradicional do século XIX, que morava na Rua Nova, no Bairro de Santo Antônio – Recife - PE. O rico e esnobe Jaime Favais era dono de um estabelecimento comercial e tinha uma filha chamada Clotilde e uma mulher chamada Josefina. Clotilde conhece o jovem Leandro e vive um relacionamento afetivo com ele, chegando ao ponto de engravidar do rapaz. Numa sociedade preconceituosa, num ambiente patriarcal, e num Recife machista, o pai, ignorante, rigoroso e esnobe descobre a gravidez de Clotilde e obriga-a a se casar com um jovem rico da cidade: João.

 Nesta ocasião, João não aceita o casamento com Clotilde e a pobre menina sofre a trágica sentença de seu pai: o emparedamento. Assim, com a ajuda de um pedreiro, Favais constrói uma parede no banheiro de sua casa com a jovem dentro, amarrada, machucada e perdida a sofrer pelo resto da sua vida o emparedamento. Após o crime, Jaime vai morar em Portugal e sua mulher morre. Por isso, ele volta pra sua antiga morada e sofre o pagamento pela sua crueldade no passado. O homem passa a ver aparições de sua filha e de sua esposa em todos os cômodos da casa, durante as noites ele escutava gemidos e barulhos estranhos como correntes arrastando e objetos caindo.

 Há relatos de moradores da redondeza afirmando ouvir barulhos de assombração quando passavam pela casa da família Favais. Outros relatos, feitos pelos novos moradores de casas antigas do Recife, afirmam que, em reformas, acabam encontrando ossadas entre as paredes, sugerindo que a prática de emparedamento era comum na época. A história teve seu reconhecimento em um livro: “A emparedada da Rua Nova”, do autor de Carneiro Vilela, que posteriormente virou tema da série “Amores roubados”, da Rede Globo.

É nesse batimento, na referência que a imagem 1 faz à Lenda da Emparedada da Rua Nova, que baseados nos estudos de Orlandi (2008, 2009a), podemos analisar como os processos parafrásticos funcionam nessa relação imagética. A atriz que aparece na imagem, assume a posição de ser a mulher da referida lenda e é apresentada usando uma roupa semelhante à da história que reza no imaginário recifense da Emparedada da Rua Nova com roupa branca por já ser vista pela população como um fantasma. Aqui, podemos analisar que há já-ditos que assumem o papel de fazer circular sentidos de memória. Esse lugar de operador da memória mitifica a imagem 1, pois segundo Pêcheux:

 

os fatos de discurso, enquanto inscrição material em uma memória discursiva, tenham podido aparecer como uma espécie de problemática-reserva. Essa negociação entre o choque de um acontecimento histórico singular e o dispositivo complexo de uma memória poderia bem, com efeito, colocar em jogo a nível crucial uma passagem do visível ao nomeado, na qual a imagem seria um operador de memória social, comportando no interior dela mesma um programa de leitura, um percurso escrito discursivamente em outro lugar: tocamos aqui o efeito de repetição e de reconhecimento que faz da imagem como que a recitação de um mito (PÊCHEUX, 1999, p. 51).

 

Nesse ponto, é possível observarmos que nesse modo de dizer há algo que se mantém, por exemplo, a roupa branca, os cabelos longos e a face pálida da mulher, que nos mostram a forma material com a qual a imagem 1 funciona em relação à situação. Nesse modo de funcionar, é possível analisarmos o que Pêcheux (1999, 2009), conceituou como o dizível, a memória discursiva. Assim, a imagem (ou elemento imagético) opera discursos outros, pronunciados indefinidamente em outros lugares, fazendo retornos e retomadas de um discurso já formulado.

              É nesse jogo de sentidos produzidos mobilizados pela imagem 1, com o objetivo turístico de assustar e surpreender quem faz o passeio de Catamaran no Recife, que se torna possível analisarmos, a paráfrase (a repetição) e a polissemia (a instauração da diferença), pois agora estamos em 2023 e de uma encenação feita por uma atriz na Ponte de Ferro do Recife, que está pintada de uma nova cor, diferente da época na qual a lenda é reportada no imaginário dos recifenses pelo funcionamento da memória discursiva sobre as lendas da cidade.

 Nessa diretriz, segundo os estudos de Orlandi (2009a), podemos observar que a polissemia (atriz encenando na atualidade) como deslocamento de sentidos trágicos presentes na imagem 1 se mostra como diferentes movimentos de sentido num mesmo objeto simbólico (a lenda da Emparedada da Rua Nova). Aqui, é possível percebermos que a imagem 1 favorece a produção de efeitos de sentidos de tragédia, de medo, de espanto, de surpresa, de morbidez, de tristeza, de susto, de novidade, dentre outros possíveis, por meio da imagem 1, que representa alguém que morreu assassinada de forma trágica. A imagem 1, com a representação da atriz, traz o diferente, a criatividade, o deslocamento, o movimento dos sentidos na atualidade do passeio de Catamaran. É a ressignificação do mesmo, construindo novos sentidos para a lenda urbana.

Na imagem 2, vemos um sujeito que assume a posição de atore se mostra na imagem vestindo roupas pretas cinzentas, como o rosto pintado de olhos ladeados de preto, com uma maquiagem que nos remetem à lembrança dos filmes de terror. Aqui, podemos analisar que há também referência ao passeio de Catamaran do Recife, mas há, também, referência a outra lenda urbana recifense, momento no qual atores enceram a lenda dos Espectros do Rio Capibaribe.

De acordo com o site oficial O Recife Assombrado, reza a tradição popular que, nas águas do Rio Capibaribe, habitam muitos fantasmas. Principalmente, almas penadas de suicidas – pessoas que usaram o rio como rota de fuga deste mundo cruel e permanecem no limbo, no purgatório entre o Céu e o Inferno. Há também a alma penada de muitos escravos que tentaram fugir das senzalas dos casarões do Recife, nadando pelas águas do Rio Capibaribe e morreram afogados no rio. Então, diz a lenda que no breu das noites caladas, esses espectros de expressões angustiadas podem ser vistos por quem se aproxima das margens mais desertas do rio Capibaribe. São como sutis vultos sobre a superfície e provocam fortes arrepios em quem os testemunham.

Na imagem 2, podemos analisar que, por meio da retomada dos dizeres, conforme nos mostram Pêcheux (1999, 2009) e Orlandi (2014), é possível estabelecer diferenças a partir de um desnivelamento originado entre o dizer que se “apaga” e o dizer que sugere e sustenta novos atos de discursivização, tendo em vista que se trata de uma encenação atual. Assim, o ator é inserido em um novo acontecimento discursivo (um passeio turístico da atualidade sobre as águas do Rio Capibaribe. Nesse funcionamento, a imagem 2 atualiza sentidos de uma memória que o constitui (a lenda dos Espectros do Rio Capibaribe).

Dessa forma, a imagem 2, aqui analisada, não é a própria lenda, mas funciona como uma representação dela, que faz referência a ela. É justamente nessa compreensão que a imagem 2 funciona como uma unidade de sentido em relação à situação. É uma unidade de transmissão cultural turística, que se refere aos dizeres de pernambucanos que afirmam terem vistos realmente os espectros no rio.

Nesse ponto, o ator é apresentado noutra posição, a de um fantasma, numa referência ao passeio turístico de Catamaran e à lenda referida. Assim, vestido e maquiado para assustar a quem faz o passeio, através das relações imaginárias dos sujeitos com as suas condições reais de existência, a imagem 2 favorece a circulação de efeitos de sentidos de medo, terror, susto, pavor, surpresa, admiração, tristeza, angústia, dentre outras possíveis, pois se aproxima das sensações que os sujeitos sentem ao verem filmes de terror, desta feita, envolvendo-os no universo do Dark Tourism.

Nessa guisa, estabelece-se, aqui, um diálogo entre duas histórias (Os espectros do Rio Capibaribe/Um atual passeio turístico pelo Rio Capibaribe). É a memória discursiva que funciona aqui, estabelecendo novos dizeres (Dark Tourism), pela compreensão do já-dito, como bem ressaltou Pêcheux (2009), ao dizer que alguma coisa fala antes noutro lugar independente e diferentemente. Desse modo, pela operação da memória discursiva, o terror é provocado imagem 2.

Nessa retomada de valores, práticas e representações sociais, a imagem 2 imprime na história lendária características de elementos atuais (a proposta turística). Esse traço turístico passa a ser responsável pelo deslocamento de sentido atribuído da lenda para a encenação teatral atual, provocando, dessa forma, a polissemia. É desse modo que os efeitos de sentidos são produzidos na imagem 2, por meio da memória discursiva (PÊCHEUX, 1999).

Nessa diretriz, tanto a imagem 1, quanto a imagem 2 retomam a característica central das lendas urbanas macabras (o terror) e constroem uma outra referência para elas (o Dark Tourism), passando a significar uma proposta de passeio turístico pelo Recife atual. Nessa compreensão, é preciso conhecer tais traços de memória, para que os efeitos de sentidos circulados a partir da imagem 1 e da imagem 2 sejam possíveis e compreendidos, pois a memória discursiva se diz nessas imagens, que discursivizam a capital pernambucana, significando condições historicizadas de leitura.

 E é nesse modo de funcionar que ao promover o encontro de atualidade e memória, a imagem 1 e 2 retomam formulações anteriores sobre as lendas urbanas do Recife e abrem a possibilidade para que outros discursos sejam formulados a partir delas: o Dark Tourism recifense. Logo, foi possível analisar que as imagens 1 e 2 derivam de dizeres outros, deslocados e ressignificados no fio interdiscursivo, presentificando lendas e discursos que se deram em outros contextos históricos e que produzem sentidos que vão além da literalidade do dizer. E é desse modo que a memória discursiva afeta a discursividade dessas duas imagens aqui, analisadas, filiando-as à memória social e ressignificando já-ditos.

 

6. Efeito de fim

Filiados às proposições teórico-analíticas da AD, em nosso ato estabelecido aqui, tomamos como materialidade discursiva para analisarmos, em nosso gesto de leitura e de interpretação, duas imagens de terror que foram extraídas do site Catamaran, como imagens que (se)dizem sobre o Recife mal-assombrado. Nelas, pudemos analisar movimentos diversos de sentidos nessas materialidades significantes, imbricadas por encenações feitas de duas lendas urbanas, num passeio turístico de Catamaran sobre as águas do principal rio que corta o centro da cidade, o Rio Capibaribe que, entre memória, paráfrase e polissemia, apresentam a capital pernambucana como a cidade mais mal-assombrada do Brasil.

Nesse ponto, foi possível analisar que histórias e lendas de assombrações têm sido teatralizadas e formatadas sob um novo produto turístico urbano, proporcionando relações diferenciadas entre os sujeitos e a cidade, o que contribui para o surgimento de um novo olhar sobre o Recife e o seu cotidiano, pois o turismo urbano está intimamente relacionado com a cultura nas cidades. Nesse viés, pudemos observar que a Veneza Brasileira, vista como lócus da prática turística por meio de suas assustadoras lendas citadinas, favorece a prática do Dark Tourism.

Assim, por esse viés, tomamos a imagem 1 e a imagem 2 como materialidades discursivas, por meio da Análise Materialista do Discurso de vertente pecheuxtiana, analisando os deslocamentos de sentidos e seus efeitos produzidos na circulação delas, bem como, o modo como (se)dizem saberes discursivos a partir dessas duas imagens, que trazem já-ditos e funcionamentos constitutivos na exterioridade pela historicidade, inscritos numa rede de memórias, nessa relação sempre constitutiva entre paráfrase e polissemia. É importante mais uma vez enfatizar que essas duas imagens possuem uma significação independente do verbal, porquanto possui materialidade e historicidade próprias, constituindo-se, desse modo, como nos aponta Orlandi (1995), uma prática discursiva.

Desse modo, as imagens 1 e 2 carregam o deslocamento de sentido, possuem pontos de deriva que incidem em outros discursos e funcionam na construção da memória discursiva (a memória do dizer). Nesse entremeio, este artigo trouxe como principal contribuição mostrar o funcionamento discursivo do Recife, dito de outro modo, no Dark Tourism.

Conforme já pontuamos, ao analisarmos essas duas imagens pelo viés da Análise Materialista do Discurso de vertente pecheuxtiana, percebemos a movência teórica e analítica nele. Desse modo, indagamos à seguinte proposição: i) Que efeitos de sentidos são produzidos a partir da circulação dessas duas imagens assombradas? ii) Como a memória discursiva funciona nessas duas imagens das lendas do Recife?

Assim, analisar a materialidade do discurso de dado objeto é inseri-lo em condições sócio-históricas, reconhecendo que os processos de produção, circulação e interpretação dos sentidos dependem da relação mantida entre paráfrase e polissemia, entre memória e atualidade.

Desse modo, dentre outros aspectos analisados, observamos no funcionamento da memória discursiva, que as duas lendas de terror aqui, analisadas, foram ressignificadas na atual conjuntura do Recife, por meio de encenações teatrais turísticas num passeio não ortodoxo e sim, macabro, no universo do Dark Tourism.

É nessa rede de filiação de sentidos, que pudemos analisar, a paráfrase (a repetição das roupas que lembram fantasmas, por exemplo) e a polissemia (as maquiagens feitas nos atores, o Dark Tourism), favorecendo a instauração da diferença, da polissemia.

E, desse modo, a imagem 1 e a imagem 2 produziram vários efeitos de sentidos ao serem circuladas na internet, dentre os possíveis, podemos citar: efeitos de sentido de estranhamento, medo, terror, susto, pavor, surpresa, admiração, tristeza, angústia, dentre outras possíveis nesse universo mórbido do Dark Tourism. Efeitos justamente porque, ao se refutar as “transparências” (do sujeito, da linguagem, da história, da “realidade”), o que resta ao sujeito são efeitos (de objetividade, de transparência, de comunicação bem-sucedida...).

 

 

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VEJA. Recife assombrada: conheça as histórias que fascinam os moradores. VEJA. Disponível em: https://veja.abril.com.br/cultura/recife-assombrada-conheca-as-historias-que-fascinam-os-moradores/ >> Acesso em: 21 de março de 2023.

                                                                                       

Data de Recebimento: 24/03/2023
Data de Aprovação: 27/04/2023