GRUPO I – ESTABELECIDOS |
SUBDIVISÃO |
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Moradores antigos consideram a implantação do campus da UFSCar para CMA |
Aum malefício |
Bum benefício |
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E1: Agora eu falo, que não foi só os estudantes que estragou a Campina, porque a calamidade daqui é difícil, sabe? Ela era desse tamainho (fez gesto com as mãos), por causa da universidade (UFSCAR) a Campina cresceu [...] O povo cresceu o olho nos estudantes para tirar proveito, porque “eles podem, eles são rico”. Tudo aproveitou...construíram. Tá certo, só que tem o limite. Eles não pensam que eles precisam comer, eles têm que se vestir, eles gastam livro. Eu tenho dó, menina”. [...] Eu acolhi elas como se fosse da família, foi assim que acolhi. Está com 3 anos que elas moram aqui. [...] Vou ficar com saudades das meninas da UFSCar. [...] Por mim os pais dela ficavam morando pra cá também. Quando eles foram embora, eu fique olhando, minhas lágrimas caia, é como se fosse da família. Eu não queria ser assim apegada com as pessoas”. (grifos nossos)
E2: [...] Uma outra coisa que trouxe de ponto negativo, quando montou a Universidade aqui na Campina, veio o jovem e o povo de Campina que era uma cidade pacata, não tava acostumado com bagunça. O primeiro ano foi uma desordem na Campina, que dava delegacia todos os dias. Eu era funcionário público, então tinha os donos de casa, os proprietários, ia na delegacia porque não conseguia dormir, os jovens não deixam ninguém dormir, virou muita bagunça, em vez de estudar queria só bagunçar. [...] A universidade trouxe problema? Trouxe, como qualquer outro lugar traz. Traz prostituição, traz drogas, isso é normal. E a Campina não está preparada. Infelizmente nós não temos uma saúde adequada para atender essa demanda que nós temos hoje [...] Eu acho muito bacana a relação entre os alunos e os moradores, inclusive os alunos tem o maior respeito com a gente, com todo mundo, chama a gente de tio. Os professores então nem se fala. Eu vejo essa relação de todos os moradores daqui com os universitários, melhor é impossível. Virou famílias. Eu vejo que fazem churrasco, faz almoço na casa, convidam o professor, o aluno...virou família, fico muito bacana isso daí, é muito ótima a convivência entre o pessoal da universidade com os moradores de Campina. [...] O poder público precisava investir numa mudança, numa limpeza da cidade, investimento em lazer, mas infelizmente tá deixando a desejar. O universitário traz desenvolvimento. Eles querem festa. Se você fizer uma festa, tem gente suficiente pra gastar, pra se divertir. Entendeu? A praça nossa era muito mais bonita, hoje a praça tá acabada, tá tudo escuro. Tem que ter atração para segurar esse jovem, se não o jovem sai para outras cidades e deixa o município. É isso que tá faltando. Eu vejo opção para segurar o jovem e eles se divertir para fazer a festa deles.... E a festa deles, eles gastam, consomem, eles compram bebida no mercado, compram pão na padaria para vender lanche. Eles fazem uma festa que vira um comércio através da festa deles. Alguém ganha e são os alunos [...] o lazer deles é a festa que eles fazem. (grifos nossos)
“[...] Se você fizer uma festa, tem gente suficiente pra gastar, pra se divertir. Entendeu? E a festa deles, eles gastam, consomem, eles compram bebida no mercado, compram pão na padaria [...] O poder público precisa investir numa mudança, numa limpeza da cidade, investimento em lazer [...] tem que ter atração para segurar esse jovem [...] A praça nossa era muito mais bonita, hoje a praça tá acabada, tá tudo escuro [...]”. (grifos nossos)
“[...] Eu acolhi elas como se fosse da família, foi assim que acolhi... está com três anos que elas moram aqui... Quando eles [os pais das alunas] foram embora, eu fique olhando, minhas lágrimas caíam, é como se fosse da família”. Relato da moradora antiga que aluga sua casa do fundo para duas alunas da UFSCar.”
O1: Quando a gente faz festa eles [estabelecidos] querem ir também, eles querem participar das coisas que os alunos fazem. Já chegou a dar problemas de o pessoal pular muro pra entrar em festa. Assim, eles querem participar e quando a gente faz algum role fechado, alguma coisa assim, eles ficam chateados “Poxa, não abriu pra cidade”. As festas geralmente são abertas, mas paga ingresso e aí os universitários pagam um preço e aí o pessoal da cidade paga um pouco mais caro. Tem umas que não têm isso, é o mesmo preço para todo mundo. Geralmente as festas são abertas, são poucas as festas fechadas. Mas as fechadas que eu ouvi falar sempre trazem problema de o pessoal querer entrar e não poder. Ai o pessoal fica chateado, reclama depois. É uma relação de amor e ódio que taí aí que eu consigo ver. (grifos nossos)
O2 [Parte 1]: Acho que quando você se instala, passam seis meses, querendo ou não, você vai ver a pessoa todos os dias, vai ver a pessoa da farmácia, do barzinho, do mercado, a pessoa que cata reciclagem na sua casa. Por que não dizer um oi, tudo bem, posso ajudar? Foi o que aconteceu aqui em casa, fiz amizade com a senhorinha da reciclagem, foi mais ou menos isso. Eu tinha acabado de colocar o lixo pra fora da minha casa. Na época eu não separava. E ela foi revirar o meu lixo. Assim que ela foi, eu disse: “_Oi tudo bem? Posso ajudar a senhora?”. Ela ficou super sem graça e ela botou a mão pra traz e disse: “_Nossa moça, desculpa, eu não sabia”. [A aluna disse:] “_Não, não, pode ficar tranquila, é que o lixo não está separado, mas passa final de semana que eu vou separar tudo o lixo para senhora, que é mais fácil, poupa serviço para senhora!”. Ela ficou super animada, muito agradecida, e foi embora. Aí passou outro final de semana, eu fiquei esperando ela, porque eu consegui ouvir o barulho do carrinho dela. Aí eu já dei um grito, “Espera aí que eu estou descendo”. Desci e entreguei a reciclagem, ela perguntou se podia me dar um abraço. Aí eu abracei ela, aí toda vez que ela me vê, ela dá um grito: “_Oi, menina!”. Ela me abraça e me dá um beijo. Independente de sol e chuva, a gente pára para conversar Eu conheci a netinha dela, sobrinha dela, a cunhada dela, conheci todo mundo, toda a família dela. No aniversário dela, eu guardei a data de aniversário dela, aí eu dei um bolo de presente. Eu sou assim, já chamo pra tomar café. (grifos nossos).
O2 [Parte 2]: Eu morei um tempo sozinha. Eu fiz amizade muito fácil com os moradores, no sentido assim de...eu chegava a conversar, e eles “vamos tomar um café na minha casa?”, ou as senhorinhas na rua perguntavam: “_Onde você está indo?” [...] Hoje eu tenho amizade com a moça do açougue, a moça do caixa, do mercado, com a pessoa que pega reciclagem na minha casa. Eu acho muito bonitinho: quando eu saio, a senhorinha que cata reciclagem lá em casa, ela grita: “Oh menina!”. Eu digo “Dona Maria, vem tomar café na minha casa!”. Se a pessoa me vê arrumada, já fala “_Você está indo pra festa?”. Eu tenho amizade com quase todo mundo. Então quando eu vou nas festas, eu procuro estar com o meu grupo da UFSCar, mas se eu conheço alguém da Campina, porque não agregar o grupo da UFSCar, né? [...] Como estava muito frio, fiquei sabendo que ela ficou internada. Aí fiquei com muita dó. Fiz um crochê, um cachecol de crochê e uma touquinha. Ai eu falei: “_Esse é um presentinho já adiantado de aniversário”. Porque eu sei que está muito frio e ela sai cedo para pegar reciclagem. Aí no dia em que ela me viu, ela quase chorou. Eu fiquei preocupada por ela ter ficado internada duas vezes. Deve ser por causa de frio, porque ela sai muito cedo. Ela me abraçou, ela não sabia como me agradecer por causa de um bolo e um cachecol (grifos nossos).