INTRODUÇÃO
Por que os falantes sentem que as palavras que eles utilizam para falar são adequadas para aquilo que eles dizem? Onde está pautada sua certeza? Nosso artigo procura responder a estas questões através da análise do termo sentimento na obra de Saussure. Nós vamos tentar compreender o emprego do termo por Saussure e olharemos o sentimento não como algo indefinido, um sentir vago e sem nenhuma possibilidade de definição e colocado em relação com a atividade locutória do falante, mas ao contrário como algo que está ligado às enunciações concretas. Nossa análise terá como conseqüência pesquisar qual é a condição do sujeito falante registrado no ato de fala. Segundo nós, no paradigma saussuriano, uma determinação do sujeito falante não pode ser pensada sem levar em consideração a presença constante do emprego da língua.
O SENTIMENTO NOS TEXTOS SAUSSURIANOS
A história do trabalho científico de Saussure é também caracterizada pela pesquisa constante de uma terminologia satisfatória para expressar, da melhor maneira possível, a teoria lingüística que ele procurou definir durante toda a sua vida. A necessidade terminológica estava marcada pela consciência das inovações teóricas de suas idéias em relação à lingüística e, portanto, pela vontade de Saussure de encontrar as palavras para ajudar, a ele mesmo em primeiro lugar, a compreender todas as conseqüências dessas idéias, para não deixar nenhum lugar à ambigüidade e, enfim, para mudar a direção em relação à lingüística de sua época[2].
No que concerne a esta utilização do termo sentimento em Saussure há diferentes níveis de consideração. O primeiro é filológico[3]. Durante os três cursos de lingüística geral entre 1907 e 1911, mas também nos escritos precedentes datando do período entre seu retorno à Genebra em 1891 e o projeto do livro De l’essence double
[2] É, por exemplo, suficiente considerar que os termos significante e significado são entradas que fazem parte, nesta forma, do léxico teórico saussuriano somente durante a lição de 19 de maio de 1911, que corresponde à última parte do terceiro e último curso de lingüística geral de Saussure.
[3] Com efeito, todas as vezes que discutimos Saussure, nós somos obrigados a declarar as escolhas dos textos utilizados, ou as edições de referência. Isso em razão da difícil história editorial dos textos saussurianos, mas também para se dar a possibilidade de seguir a evolução e as ramificações da terminologia utilizada por Saussure ligada ao contexto geral de sua teoria.