Política de Línguas


Relações de Línguas

A História do Brasil é uma história do processo de colonização européia desencadeado no início do século XVI. Foi no movimento das grandes navegações do final do século XV (a chegada de Colombo à América se deu em 1492), que Portugal chega ao Brasil (em 1500) e toma posse das terras que nomearam de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz. A história das relações das línguas do Brasil começa neste momento a tomar uma nova forma. Com a chegada dos portugueses, notadamente a partir de 1532, quando começa efetivamente a colonização portuguesa do Brasil, passa a fazer parte deste espaço geográfico a prática da língua portuguesa como língua de um Estado (um Império). Esta língua e seus falantes encontra aqui um grande número de outras línguas e seus falantes, as hoje chamadas línguas indígenas. Ao mesmo tempo outras nações européias vêm para o Brasil, como a França e a Holanda. A Holanda instala aqui uma colônia, na região que é hoje o Estado de Pernambuco. Assim as relações entre as línguas no Brasil foi desde então um convívio que é preciso entender e não só descrever.

Se relacionarmos esta questão da relação das línguas na Europa, com o caso brasileiro, e tantos outros casos assemelhados, vamos ver que não é possível nem sequer descrever este espaço de línguas no Brasil a partir de uma posição que a Europa produziu no século XIX para estudar suas línguas. O conhecimento produzido pelos europeus e que se projeta para o século XX, se deu no interior da lingüística comparada. Para a Lingüística Comparada o que é necessário explicar nas relações entre línguas são suas relações de parentesco. Assim é que a lingüística comparada considera, por exemplo, o inglês, o alemão e o holandês, como línguas de uma mesma família (a família anglo-germânica), assim como o francês, o espanhol, o italiano, o português, são da família das línguas latinas. Estas duas famílias de línguas fazem parte, segundo este ponto de vista, de um mesmo tronco de línguas, o indo-europeu. Deste tronco fazem também parte línguas como o latim (língua mãe das línguas latinas), o grego, o sânscrito.  Esta forma de ver a questão das relações entre línguas não é, de modo nenhum, capaz de orientar a observação do espaço das línguas no Brasil. E por quê? Porque o conjunto de línguas existentes no Brasil e que tem um tipo de convívio organizado em torno do fato de que o Português é a língua nacional do Estado brasileiro, não são línguas que mantenham com o Português relações que a lingüística comparada chama de relações de parentesco. 

Observa-se: as línguas indígenas, por exemplo, o tupi, o guarani, o xavante, etc. não têm relações de parentesco lingüístico com o português. E o que interessa pensar quando se fala das línguas do Brasil tem a ver com a relação de todas as línguas entre si, mas muito especificamente das línguas com o português como língua oficial do Estado, com todas conseqüências que isto traz. Por exemplo, o ensino se dá na língua do Estado (o Português), os livros são publicados também nesta língua, a imprensa é nesta língua, etc. 

O que interessa, então, no quadro das línguas do Brasil são as relações que elas têm enquanto relações históricas e políticas. Ou seja, como entraram em relação, como estas relações se desenvolveram, que relações de poder se configuraram e como, em todo o conjunto de línguas? E deste modo, em que medida certas línguas acabam por desaparecer como resultado destas relações de forças, de poder? E, ainda, como estas relações dizem respeito à relação entre os falantes destas línguas, e em que medida as estruturas destas línguas são afetadas umas pelas outras a partir desta história política das relações de poder? O que se pode ver, então, é que estudar as línguas do Brasil é uma forma de refletir sobre a história destas línguas enquanto línguas praticadas por seus povos e por povos diferentes. A questão é saber como esta divisão que relaciona línguas e falantes se constitui e que conseqüências históricas e lingüísticas traz.
(E.G.)

 
 

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